Bioeconomia amazônica: fronteiras científicas e potenciais de inovação
Pesquisas brasileiras avançam no conhecimento da biodiversidade vegetal amazônica e apontam potenciais tecnológicos para o desenvolvimento socioeconômico e sustentável.
Pesquisas
Biodiversidade
Somos um dos países mais biodiversos do mundo. O bioma amazônico é continental e nos presenteia com uma inestimável quantidade de animais e plantas. Guarda soluções para vários desafios dos nossos tempos, da alimentação saudável à saúde, da fabricação de novos materiais à construção sustentável.
Bioeconomia
Diz respeito a relação entre riqueza natural e econômica. A capacidade de produzir com sustentabilidade, de gerar trabalho, emprego e renda em comunidades, a partir da (socio)biodiversidade. Impacta-se, assim, quem habita os territórios.
Ciência orientada por missões
Trata-se de um jeito de fazer ciência que estimula o desenvolvimento de inovações com o propósito de superar os grandes desafios sociais e ambientais do nosso tempo.
Ciência aplicada em biodiversidade
A investigação científica a partir da biodiversidade tem grande potencial de geração de valor econômico, social e ambiental. Trazemos os principais resultados do mapeamento de pesquisas feitas por cientistas que contribuem para a geração de conhecimento e possíveis inovações a partir da Amazônia.
Pesquisas de destaque
Evidenciamos o potencial de aplicação de pesquisas baseadas em insumos florestais da Amazônia para acelerar o desenvolvimento da bioeconomia. Partimos de um universo de 1.070 publicações e destacamos 7 pesquisas pelo seu potencial de impactar positivamente o meio ambiente e a sociedade.
Opiniões e recomendações
Convidamos 5 especialistas – com atuações na academia, no governo, em organizações não governamentais e empresas – para apresentar suas ideias e recomendações, a partir de olhares diferentes e complementares sobre bioeconomia, ciência e desenvolvimento.
Artigos
A cúrcuma aplicada em embalagens
O estudo investigou a aplicação do amido de cúrcuma como filme bioativo a fim de proporcionar o aproveitamento do resíduo da extração de curcumina como alternativa aos polímeros sintéticos. O resultado foi a produção de um filme funcional que pode fornecer proteção eficiente contra o crescimento microbiano e a deterioração oxidativa em produtos alimentícios.
Murici e taperebá: bioativos contra o câncer
O estudo investigou os extratos de taperebá e murici para sensibilização de células. Os resultados demonstraram que os dois extratos são importantes fontes de carotenóides totais e compostos fenólicos (luteína). Também foi comprovada uma forte bioatividade e produção de efeitos citotóxicos que puderam sensibilizar as células de câncer de ovário.
Microalgas amazônicas e novos biopolímeros
O estudo investigou a produção do polímero biodegradável polihidroxibutirato (PHB) a partir de cianobactérias e microalgas da floresta amazônica. A pesquisa demonstrou a alta produtividade de PHP pela microalga verde eucariótica e oleaginosa Stigeoclonium sp. B23 e deu origem a um novo biopolímero.
Tucumã e novos usos da biomassa
O estudo investigou uma nova abordagem de extração de celulose para o reaproveitamento do endocarpo de tucumã, geralmente descartado. Como resultado foi possível obter e caracterizar uma celulose do tipo II de forma inovadora.
Tucum buriti e tururi como fibras têxteis de alta qualidade
O estudo trabalhou com fibras originadas de palmeiras amazônicas para caracterização e análise dos seus potencias como fibras têxteis. Os resultados permitiram desenvolver compósitos multicamadas com estrutura 3D e apresentou resultados bastante promissores em termos de aspectos funcionais de resistência e estética.
Fibra de tururi e novas aplicabilidades
O estudo investigou as características e os potenciais do saco que envolve os frutos do tururi, geralmente não aproveitado. Como resultados, foi atestado o bom desempenho mecânico da fibra e desenvolvidos compósitos verdes 3D multicamadas com potencial para aplicações na fabricação de móveis e pisos, moda e artesanato.
Plantas amazônicas contra efeitos do mercúrio
O estudo investigou o efeito protetor de extratos vegetais de Plathymenia reticulata e Connarus favosus contra o metil-mercúrio (MeHg). Os resultados atestaram o potencial protetor dos dois extratos, o que pode representar uma alternativa para as comunidades amazônicas lidarem com a exposição ao mercúrio.
Articulistas
Carina Pimenta
“Mais que buscar soluções para um ou outro negócio, devemos estruturar abordagens em escala, junto com os órgãos públicos, sociedade civil e setor privado, para que a oferta de apoio seja crescente, contínua e compatível com a realidade”.
Julia Sekula
“Se não conectamos a floresta ao mundo tecnológico, vamos ficar para trás. Isso também serve para acesso ao capital e capacidade de comercialização: precisamos construir pontes entre a Amazônia e São Paulo, entre a Amazônia e o Vale do Silício”.
Mariana Barrella
“Além de acreditar no bioplástico feito com fibras da Amazônia, eu acredito no enorme potencial existente no desenvolvimento de parcerias entre a academia, a indústria e as organizações que focam na preservação e no uso consciente de insumos da floresta”.
Ricardo Abramovay
“A bioeconomia consiste no uso da ciência e da tecnologia para que emerja uma economia que se inspire na natureza em seu processo de inovação e contribua para enfrentar e resolver nossos mais importantes problemas socioambientais.”
Tatiana Schor
“O conhecimento da natureza é o mecanismo para que se construa futuros possíveis. Na Amazônia ainda temos uma enorme natureza a ser conhecida. A bioeconomia é uma das vertentes de conhecimento sobre a natureza, chave para a inovação nas tecnologias que transformam o mundo”.